
Duas dessas bancas pertencem a Matilde Inácio, vendedora de frutas e legumes que conhece a praça desde criança. Foi ali que cresceu, ajudando os pais na venda de fruta até aos 22 anos, quando casou e se mudou para o concelho de Alcobaça. A vida deu muitas voltas ao longo de mais de três décadas e, há 4 anos, Matilde regressou à praça que tão bem conhece, após ter ficado desempregada.
Quase tudo o que vende é produzido por ela própria, no seu pomar. O que não cultiva, adquire a produtores locais, mantendo uma forte ligação à produção tradicional. Embora tenha várias árvores de fruto típicas — como nespereiras, pessegueiros e limoeiros —, Matilde tem uma paixão especial por frutas exóticas. As antigas terras dos pais, onde antes se cultivavam, sobretudo, macieiras e pereiras, transformaram-se num verdadeiro campo de experimentação agrícola, com culturas tão diversas como maracujá, tamarilho, manga, araçá, líchia e kiwano. Alguns frutos vingam, outros não. Infelizmente, a nossa visita não coincidiu com a época da colheita e não pudemos ver os exemplares mais exóticos da sua produção.

Apesar de dizer que não é uma “entendida”, Matilde mostra-se curiosa e empenhada em aprender sobre novas formas de agricultura sustentável. Lamenta, no entanto, que muitas frutas autóctones — como algumas variedades de maçã — estejam a desaparecer, substituídas por marcas comerciais como Golden, Reineta ou Fuji.
A agricultura sempre foi a sua grande paixão, e Matilde Inácio confessa apenas um arrependimento: não ser mais nova para poder dedicar-se “mais afincadamente” à arte de cultivar a terra. No entanto, não esconde o orgulho que tem no pomar que abastece as bancas da família com fruta e legumes frescos da época.