Luís Bernardo

Nascido na vila do Nordeste, localizada na ponta mais oriental da ilha de São Miguel, Luís Bernardo viveu toda a sua vida na freguesia de Algarvia, concelho do Nordeste. Da infância, lembra-se de fugir da escola para ir com os amigos ao Miradouro da Vigia das Baleias observar as baleias. “O vigia chamava-nos, pegávamos nos binóculos e víamos as baleias a saltar fora de água”, recorda, num tempo em que a caça à baleia era uma das principais atividades económicas dos Açores. Depois disso, foram poucas as vezes em que Luís Bernardo parou para contemplar o mar. “Tinha 8 anos e já fugia da escola para ir trabalhar nas terras”, diz, referindo-se ao início precoce da sua vida de trabalho.

Tendo perdido a mãe muito cedo, ficando o pai a cuidar sozinho de oito filhos, Luís começou por trabalhar nos campos de milho, trigo e beterraba da sua aldeia, inicialmente apenas em troca de comida. Anos mais tarde, passou a ser remunerado, podendo assim ajudar a família numerosa. Trabalhou na agricultura até ser chamado para o serviço militar obrigatório no quartel dos Arrifes, perto de Ponta Delgada. Quando regressou a Algarvia, casou-se com Maria Bernardo, natural da Povoação, e iniciou uma carreira como funcionário público, tendo trabalhado mais de 40 anos ao serviço da Câmara Municipal do Nordeste. “Trabalhei em todas as freguesias do concelho”, diz Luís Bernardo, enumerando: “Nordeste, Algarvia, Lomba da Fazenda, Achada, Achadinha, Santo António de Nordestinho, São Pedro de Nordestinho, Santana e Salga”. De estradas e edifícios públicos a jardins e miradouros, Luís Bernardo esteve envolvido na construção de inúmeras obras públicas neste concelho micaelense. Entre todas, destaca como a mais especial, pela ligação à infância, o Parque de Merendas do Miradouro da Vigia das Baleias, na Algarvia.  

Enquanto funcionário da Câmara Municipal do Nordeste, Luís Bernardo nunca deixou de cuidar das suas terras e animais. Já teve vacas, bezerros, cabras, porcos, codornizes, coelhos e galinhas, enquanto cultivava batatas, repolhos, inhame, favas, salsa, cebolas, amendoins e abóboras. “Tinha de tudo para os meus filhos”, diz, orgulhoso. Durante mais de quatro décadas, Luís Bernardo acordava às 5h para tratar dos bezerros e ordenhar as vacas, trabalhava das 8h às 16h para o município e, antes das 17h, já estava no seu “negócio” — como chama às terras e aos animais. “Chegava a casa todos os dias por volta das 22h”, conta, concluindo: “A minha vida foi sempre a trabalhar”. Só assim conseguiu criar dignamente nove filhos, que desde cedo aprenderam a trabalhar a terra. “Chegava às 16h30 e as minhas filhas e filhos já estavam à minha espera com o sacho na mão. Trabalhavam cerca de duas horas e depois iam para casa. Comiam, pegavam nos livros e iam dormir”, lembra, destacando que o apoio da esposa foi fundamental durante toda a vida.

Após reformar-se da função pública há dois anos, Luís Bernardo passou a dedicar-se integralmente à agricultura. Com os filhos espalhados pelas várias ilhas do arquipélago dos Açores e pelo continente, já não precisa de tantos animais para a produção alimentar, mas mantém duas porcas no curral. Aos 68 anos, continua a trabalhar a terra com o mesmo empenho e entusiasmo de quando começou, há 60 anos. Dedicado à família, Luís sente-se realizado ao receber filhos e netos na casa que reconstruiu há 11 anos, depois de um incêndio ter destruído a habitação. A casa está hoje abençoada por dois pequenos santuários, um dedicado a Nossa Senhora da Conceição e outro a Nossa Senhora de Fátima. Com o passar dos anos, a casa da família Bernardo foi crescendo para acomodar toda a família. “Quando isso acontece, é uma festa”, diz Luís Bernardo, enquanto trabalha.

Anterior
Anterior

Gabriel Ferreira

Próximo
Próximo

Sofia Afonso