Manuel Crispim

Em Casal de Barbas, a poucos quilómetros de Torres Vedras, encontra-se a oficina de um dos últimos tanoeiros da região Oeste. Manuel Crispim começou a aprender a arte da tanoaria com apenas 7 anos, ajudando o pai no negócio da família ao fabricar pequenas selhas. Poucos anos depois, já o acompanhava nas adegas de várias quintas da região, onde juntos realizavam trabalhos de manutenção e construção de pipas e tonéis. A tanoaria é uma tradição com raízes profundas na sua família, passando de geração em geração. Em tempos, chegaram a ser mais de uma dúzia de familiares a exercer a profissão.

Depois de cumprir o serviço militar, Manuel ainda trabalhou numa tanoaria em Torres Vedras, antes de adquirir um terreno perto de casa e montar a sua própria oficina, onde trabalha por conta própria há mais de 40 anos.

Noutros tempos, a Tanoaria Crispim chegou a produzir tonéis com capacidade para 10 mil litros e a empregar vários trabalhadores. Hoje, conta apenas com a dedicação e a resiliência notáveis de Manuel Crispim. Com 81 anos, é o último tanoeiro em atividade no concelho de Torres Vedras e continua a cumprir religiosamente o horário que estabeleceu para si mesmo desde que iniciou o seu negócio: todos os dias da semana chega à oficina às 8h, almoça em casa às 13h, e regressa às 14h para concluir a jornada de trabalho. 

Atualmente, embora já não fabrique tonéis de grandes dimensões, dedica-se à reparação e manutenção de pipas e barris, bem como à criação de peças artesanais em madeira. O artesanato sempre fez parte do quotidiano da Tanoaria Crispim. Mesas, copos, jarros, sofás, sanitas e até banheiras — tudo com formas que evocam vasilhames — são apenas alguns dos inúmeros trabalhos artesanais que saem das mãos habilidosas de Manuel Crispim. Mais do que tanoeiro, é justo reconhecê-lo como um verdadeiro artesão.

Prestes a completar 82 anos e sem ninguém a quem transmitir o vasto conhecimento acumulado ao longo de mais de seis décadas de trabalho, Manuel não pensa em reformar-se. A arte da tanoaria corre-lhe nas veias e continua a encontrar prazer no que faz. As portas da Tanoaria Crispim vão continuar abertas para quem quiser adquirir artesanato tradicional português ou, simplesmente, conhecer melhor uma profissão que está em vias de extinção.



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