Céu Pedrosa

Bajouca é uma aldeia onde o barro é moldado desde tempos ancestrais. Graças aos solos ricos em argila, esta freguesia tornou-se, em tempos, um importante centro de produção, com dezenas de oleiros em plena atividade. Atualmente, resistem apenas seis oficinas, que continuam a produzir a tradicional louça decorada em tons de verde e amarelo — típica da Bajouca — além de muitas outras peças utilitárias e artísticas.

A família de Céu Pedrosa ocupa um lugar de destaque na história da olaria local. O legado remonta ao bisavô, há cerca de um século, e continuou com o avô, João Pedrosa, de quem Céu herdou a arte de moldar o barro. O pai, Manuel Pedrosa, foi o responsável por criar a grande talha que coroa o Monumento ao Oleiro, inaugurado no centro da aldeia em 1999. Dos quatro irmãos de Céu, apenas um não seguiu a tradição, e na Rua das Olarias, onde vive, encontra-se uma das principais oficinas da Bajouca, fundada pelo seu tio.

Rodeada de barro desde criança, Céu começou a moldar as suas primeiras peças aos 9 anos. “Quando uma peça ainda fresca se estragava, eu aproveitava e transformava-a. Foi assim que comecei a criar peças diferentes”, recorda. Essa ousadia, no entanto, nem sempre era bem vista pelo pai, que via as suas invenções como desperdício de tempo e matéria-prima.

Depois de muitos anos a trabalhar na olaria da família, Céu Pedrosa decidiu abrir a sua própria oficina, onde pôde finalmente dar asas à imaginação e criar peças únicas, com narrativas próprias. Sem nunca esquecer as raízes, valoriza a liberdade criativa que o barro oferece. Um exemplo disso foi a residência artística que acolheu na sua oficina, com as ceramistas moçambicanas Reinata Sadimba e Merina Amade, apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Além da produção artística, Céu dedica-se também à formação, visitando escolas onde ensina os mais jovens a trabalhar na roda de oleiro. Como faz questão de sublinhar: “A olaria faz parte da nossa cultura”.

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