Valentim Nunes
Valentim Nunes nasceu numa família de moleiros. Em 1926, o seu avô paterno, José Nunes, mudou-se com a família para a localidade de Moita dos Ferreiros, trazendo consigo um moinho de madeira desmontado, transportado em carros de bois. Catorze anos depois, fundou e construiu o atual Moinho do Boneco, nome pelo qual ficou conhecido graças à sua alcunha. O pai de Valentim, António Nunes, foi o único entre cinco irmãos que, desde cedo, demonstrou um interesse e uma aptidão especiais para trabalhar no moinho da família. Casou-se com a filha de outro moleiro da freguesia, cuja família tinha uma longa tradição ligada aos moinhos de vento. Por isso, não é de estranhar que Valentim tenha começado a aprender a profissão de moleiro aos 8 anos e, aos 15, já trabalhasse sozinho no Moinho do Boneco.
“Estou aqui sempre a trabalhar desde que haja vento”, conta Valentim Nunes, que já não confia totalmente na intensidade e na constância do vento. As alterações nos padrões de vento — um dos efeitos das alterações climáticas — levaram todos os moleiros a instalar, a partir de 1980, motores a gasóleo ou elétricos nos seus moinhos, como sistemas auxiliares. No Moinho do Boneco, foi instalado um motor a gasóleo que ainda hoje é usado para fazer farinha de trigo, enquanto o vento continua a fazer girar a mó de moer o milho. A industrialização do processo de moagem provocou o progressivo abandono de muitos moinhos de vento. Hoje, Valentim Nunes é o único moleiro em atividade na freguesia de Moita dos Ferreiros, quando há 50 anos existiam mais de duas dezenas.
A paixão pelos moinhos de vento levou Valentim a aprender com grandes mestres moleiros da região Oeste, tornando-se ele próprio num mestre, tendo construído e recuperado dezenas de moinhos ao longo da vida.
O desafio de preservar este legado familiar ficou a cargo da filha mais velha de Valentim, Fátima Nunes, que dedica grande parte do seu tempo a manter viva esta tradição — seja ajudando o pai no trabalho diário, seja organizando workshops de farinha, debates e provas. O amor e a dedicação de Fátima pela arte da moagem em moinhos de vento são a melhor garantia de que o Moinho do Boneco continuará a ser um lugar onde se cruzam histórias de vida, ciência e tradição para produzir farinhas tradicionais, únicas e saborosas.