José Cardoso Queiroz

Nascido em Lisboa, em 1965, José Cardoso Queiroz é um dos seis filhos de uma família com ligações profundas à vila da Ericeira. “Já os meus bisavós vinham veranear para a Ericeira, e eu venho para cá desde que nasci”. Com o passar do tempo, essa ligação umbilical à vila foi-se intensificando. Há cerca de vinte anos, José decidiu abandonar definitivamente Lisboa, por não encontrar na capital o estilo de vida que procurava, e mudou-se de armas e bagagens para a vila que, segundo as suas palavras, “inspira arte por todos os lados”.

“Nunca fiz outra coisa”, afirma José Cardoso Queiroz ao descrever a sua relação com a arte. Frequentou a Escola Artística António Arroio e o ARCO – Centro de Arte e Comunicação Visual, onde estudou escultura, desenho e fotografia. Em 1982, iniciou o seu percurso profissional como desenhador no atelier da Papelaria Fernandes, em Lisboa. Mais tarde, trabalhou num atelier gráfico, onde desenvolveu competências na criação de esculturas tridimensionais, e numa empresa especializada em stands e adereços. Ainda jovem, passou pela mítica fábrica Semente — a histórica marca portuguesa de pranchas de surf — onde teve o primeiro contacto com resinas e fibras, materiais que mais tarde seriam centrais no seu percurso enquanto artista plástico. 

A partir de 1988, passou a trabalhar de forma independente nas áreas da cenografia para cinema, televisão, publicidade e teatro. Paralelamente, dedicou-se à escultura — a sua grande paixão — e ao desenvolvimento de projetos pessoais, onde pudesse criar livremente, sem imposições nem limites. Essa liberdade criativa está patente nas suas obras, seja numa Vénus de Milo reinterpretada com um toque contemporâneo, seja numa escultura em resina acrílica de um cavalo puro-sangue lusitano. Muitas das suas criações transmitem também mensagens sociais e políticas, como é o caso de Sunshine, uma peça sobre a igualdade de oportunidades, ou Os Mamões, exposta na Galeria de Arte do Casino Lisboa, que denuncia a desigual distribuição da riqueza no mundo.

O mar, elemento constante na sua vida, está também muito presente na sua obra. Pode ser visto, por exemplo, na representação da onda gigante da Nazaré ou na sua interpretação do Adamastor. No entanto, é a escultura O Guardião que ocupa um lugar especial no seu percurso. Instalada no miradouro da praia de Ribeira d’Ilhas, a estátua — conhecida como o “Guardião da Reserva Mundial de Surf da Ericeira” — é, antes de mais, uma homenagem ao seu pai, Zecas Cardoso, “uma pessoa muito querida e admirada aqui na vila”. Amante do mar e dono de uma forma física invejável, Zecas era conhecido por nadar até se perder de vista no mar bravo da Ericeira, como se dele fizesse parte Inicialmente, a escultura não incluía uma prancha, já que Zecas Cardoso não era surfista. No entanto, ao longo de mais de trinta anos de avanços e recuos, O Guardião evoluiu e acabou por incorporar esse símbolo, que não só reflete a forte ligação de Zecas ao mar, mas também o papel central que o surf desempenha na vida dos seus filhos, netos e na própria identidade da vila da Ericeira.

A história de O Guardião continua a expandir-se. José e a sua esposa, Catarina Queiroz, desenvolveram um projeto educativo, cultural e ambiental inspirado na figura criada pelo escultor. Dessa iniciativa nasceu o livro O Guardião – A Mensagem, hoje incluído no Plano de Leitura da Câmara Municipal de Mafra. Nele, os filhos do casal — Luís, Manel e Joana — transmitem os valores de sustentabilidade que o avô sempre defendeu. Uma coisa é certa: o legado de Zecas Cardoso continua bem vivo, perpetuado na obra, na família e nos valores que atravessam gerações.

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