António José de Melo

António José de Melo é, reconhecidamente, um dos melhores construtores navais de São Miguel. Natural de Vila Franca do Campo, uma vila piscatória na maior ilha do arquipélago dos Açores, António teve contacto com o ofício desde muito jovem. “Terminei a escola primária com 10 anos e, aos 11, já estava na doca”, recorda, referindo-se à doca de Ponta Delgada, onde começou a trabalhar para a Sociedade Corretora Limitada. O seu pai era o chefe de construção da empresa, que na época detinha uma “frota muito forte de atuneiros”. Até aos 16 anos, António participou na construção de embarcações destinadas à pesca do atum. Foi então que decidiu trocar a construção naval pela construção civil — uma escolha difícil, feita contra a vontade do pai, mas motivada pelo desejo de melhorar as suas condições de vida.  

Enquanto carpinteiro de construção civil, António José de Melo recorda ter aprendido muito ao lado do mestre Norberto Mota. “Ele era tão bom carpinteiro e professor que só uma grandessíssima besta é que não aprendia”, diz, entre risos. Antes de cumprir o serviço militar, ainda trabalhou para um marceneiro em Vila Franca do Campo. Depois de regressar da tropa, participou em algumas obras antes de partir para os Estados Unidos. “Fui contratado por uma companhia americana para trabalhar em construção naval”, recorda, referindo-se ao período de quase dois anos que passou em New Bedford, no estado norte-americano de Massachusetts. De regresso a Portugal, aos 27 anos, António José de Melo dedicou-se em definitivo à construção naval — uma carreira que já soma mais de quatro décadas.

Desde que se estabeleceu por conta própria, em 1981, António José de Melo já perdeu a conta aos barcos que construiu e reparou. Entre eles está o Cruzeiro do Ilhéu, a única embarcação autorizada a transportar passageiros até ao ilhéu de Vila Franca do Campo. Com embarcações da sua autoria a navegar em várias ilhas dos Açores — e em diferentes zonas da ilha de São Miguel —, António foi também responsável por importantes intervenções de conservação e restauro, como a recuperação de um bote baleeiro no âmbito do Programa de Recuperação do Património Baleeiro dos Açores. “A construção naval é uma arte que me fascina”, afirma António José de Melo, considerado um dos mais prestigiados construtores navais da ilha de São Miguel.  

Para além das embarcações, António José de Melo também constrói violas da terra — um instrumento de cordas típico dos Açores. Esta arte está presente na sua família há várias gerações, mas só após a morte do tio, Adelino Vicente — considerado um dos maiores construtores de violas da terra dos Açores — é que António decidiu dedicar-se à chamada viola de arame, outro nome pelo qual é conhecido o instrumento. Em 2000, assumiu o atelier do tio e passou a interessar-se de forma mais aprofundada por esta arte que, tal como a construção naval, exige um conhecimento técnico apurado de carpintaria. Desde que construiu a sua primeira viola da terra, há cerca de 20 anos, já produziu inúmeras peças, algumas delas para grandes tocadores. Na sua opinião, o segredo está na escolha e na preparação da madeira — algo que aprendeu desde cedo.

Seja na construção e reparação de barcos em madeira ou na criação de violas da terra, António José de Melo orgulha-se de manter vivo o legado artesanal da família.  

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