Francisco Palhota

Natural de Salvaterra de Magos, onde nasceu há 76 anos, Francisco Palhota mudou-se para Vila Franca de Xira aos 17 anos, idade em que se iniciou nas lides da tauromaquia. Juntamente com outros jovens em busca da glória no toureio, frequentou a Escola de Toureio do Mestre António Cadório, na emblemática Praça de Touros Palha Blanco. A sua paixão pela festa brava levou-o a tomar a alternativa de bandarilheiro, uma cerimónia que marcou oficialmente a sua entrada no toureio. “Fiz a prova de bandarilheiro praticante em 1974, durante a Feira do Ribatejo, e em 1975, na Monumental Celestino Graça, tirei a alternativa de bandarilheiro profissional”, recorda Francisco Palhota, também conhecido como “Paco” entre os amigos.

Durante mais de duas décadas, Francisco Palhota enfrentou touros “sem medo” em arenas de norte a sul do país, e chegou mesmo a atuar em praças de touros em Espanha e França. Apesar de nunca ter sofrido acidentes graves, não esquece uma cornada sofrida numa tourada na Praça de Touros da Nazaré. “Dei uma voltareta de dois ou três metros no ar. Tive sorte porque o touro foi para a frente depois da investida; se tivesse recuado, não sei o que teria acontecido. Nesse dia senti medo”, admite, acrescentando logo a seguir: “Macarena esteve comigo”, em referência à Virgem de Macarena, padroeira dos toureiros.

Enquanto bandarilheiro, integrou quadrilhas de toureiros de renome nacional e internacional, como José Júlio, António de Portugal e Paco Camino. Uma das melhores recordações da sua carreira foi atuar sob as ordens do famoso toureiro espanhol Paco Camino na Praça de Touros Palha Blanco. Francisco recorda com especial saudade algumas corridas em que participou na praça de touros da cidade que o acolheu há cerca de 50 anos. “Aqui toda a gente me conhecia e tinha de estar à altura. Deixava os nervos em casa”, lembra, enquanto observa a centenária Praça de Touros Palha Blanco, um dos ex-líbris de Vila Franca de Xira. 

Antes de receber a alternativa de bandarilheiro, Francisco Palhota trabalhava como serralheiro mecânico — uma profissão que exerceu até ser abrangido por um despedimento coletivo numa fábrica situada em Porto Alto, no concelho de Benavente". A necessidade aguçou o seu engenho e, pouco tempo depois, aventurou-se na arte de criar peças inspiradas na tauromaquia. “Antes de ficar desempregado, já fazia uma peça ou outra nos tempos livres”, conta. “Através do artesanato procuro exaltar a minha paixão pela festa brava”. Na oficina que construiu no quintal de casa, já foram feitas centenas de peças. Tertúlias e coletividades taurinas de Évora, Coruche, Alcochete, entre outras, costumam encomendar as suas obras para oferecerem aos triunfadores das temporadas, premiando a melhor faena, melhor pega, melhor lide a cavalo, entre outros. Do Campo Pequeno à Praça de Touros Palha Blanco, os troféus feitos por Francisco Palhota já foram entregues nas mais prestigiadas praças do país. O seu percurso autodidata, que inclui o trabalho em madeira, ferro e mármore, entre outros materiais, é marcado por várias exposições em galerias de cidades como Santarém e Vila Franca de Xira. Em 2010, o município onde nasceu, Salvaterra de Magos, homenageou-o pelo seu percurso na tauromaquia.

A forte ligação de Francisco Palhota ao mundo tauromáquico reflete-se também na fundação do Clube Taurino Vilafranquense, do qual foi um dos mentores e fundadores. A associação tem como principal objetivo promover a defesa e o desenvolvimento da Festa Brava. Como aficionado, acompanha com interesse os novos valores da Escola de Toureio José Falcão, bem como as festas bravas e touradas da região, destacando especialmente o Colete Encarnado — a maior festa de Vila Franca de Xira e uma das mais importantes do Ribatejo. Apesar da saúde já não permitir grandes aventuras, Francisco Palhota ainda gosta de “ir para dentro da manga esperar o touro”. Ribatejano de gema, este ex-bandarilheiro e artesão tauromáquico simboliza, com a sua paixão pela festa brava, uma parte fundamental da cultura do Ribatejo.

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